domingo, 25 de abril de 2010

O desinteresse do pai



Como agir quando o pai não se interessa pelo filho?

“Deve-se sempre dar à criança a certeza de que ela tem um pai e que a curiosidade dela sobre ele é legítima e natural. É muito importante evitar que surja idéia de que ele foi embora por sua causa ou então de que os atritos entre os pais sejam por sua culpa”

Mas, para muitas mães solteiras - quase sempre também mulheres magoadas -, é difícil calar as próprias feridas. A atriz T. A., 28 anos, mãe do menino P., 7 anos, reconhece a influência de suas mágoas na formação da identidade do pai do menino perante ele. "Não tenho ódio, nem pena. É indiferença. Quando meu filho pergunta, digo que o pai dele sumiu, que foi uma pessoa que passou pela nossa vida, me deixou ele e que de agora em diante somos só nós dois. Costumo dizer que tenho amor em dobro, de pai e de mãe. Se meu filho tiver vontade de conhecer, procurar o pai, não vou embarreirar, mas confesso que não gostaria que eles se conhecessem. Nunca viu a criança, não deu nome, é um desconhecido completo. Teria muita dificuldade em perdoar", reconhece T. Entretanto, a Dra. Selma reforça: "Mesmo sem atuar, esse pai existe, é desse filho e ele tem o direito de conhecê-lo. Por isso, a importância de respostas sempre consistentes e coerentes a respeito deste assunto".

Outra discussão comum é sobre os efeitos que a ausência de um pai poderia causar na formação das crianças, sobretudo dos meninos. A psicóloga americana Peggy Drexler, que lançou no começo do ano o livro "Raising Boys Without Men" (Criando Meninos Sem Homens - Ed. Rodale Press), defende em sua obra que as mulheres são capazes de passar valores como moralidade e masculinidade a um menino, sem a obrigatória convivência com os pais. "Elas têm a oportunidade de criar um tipo diferente de homem, forte e sensível, capaz de entender que as emoções são valiosas", diz ela em seu livro.

Dra. Peggy comenta ainda que existe, nos Estados Unidos, uma falsa percepção de que a maior parte dos meninos cresce em famílias com pai e mãe. "A verdade é que 23% dos lares americanos se encaixam nesta categoria. De 1970 para cá, o número de mães solteiras aumentou em cerca de 5 milhões", aponta a psicóloga. Mas isso não diminui a importância de uma figura masculina para a criação dos pequenos. "Essa falta é sentida e suprida naturalmente. Quando não tem um pai presente, a criança escolhe sozinha um tio, um avô, um amigo da família, um irmão como ícone masculino com quem ter esse vínculo", acrescenta a psicóloga infanto-juvenil Selma Brando.

Sociedade matriarcal

Sob o ponto de vista social, o crescimento do número de mães solteiras no Brasil impressiona. Segundo dados do Ministério da Saúde, entre 2002 e 2003, um milhão de mulheres entre 16 e 24 anos deram à luz seus filhos, com pais desconhecidos. Essa informação revela, pelo menos, duas interessantes realidades na opinião da socióloga Isaura de Queiroz, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. "Isso nos reforça, de um lado, a falta de educação sexual, denuncia a escola que está cada vez mais focada para o vestibular e menos focada para a vida, que vai acabar contribuindo com outra dificuldade que é o diálogo sobre o assunto em casa etc. Mas demonstra também, e isso eu acho que é a grande novidade, uma nova mulher que não considera mais um companheiro como condição intransponível para a constituição de uma família. E isso se deve a um mercado de trabalho mais aberto, a uma sociedade culturalmente mais atualizada, que permitiu à mulher essa escolha", comenta.

Isaura chama a atenção para uma sociedade que ainda legitima a ausência do pai, mais do que a da mãe. "Existem homens abandonando seus filhos na barriga de mulheres diariamente, pelo mundo inteiro e isso pode ser considerado até corriqueiro. Mas se uma mulher faz isso, abandona um filho, é crucificada, apedrejada. A sociedade ainda é perversamente matriarcal", conclui a socióloga.







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